quarta-feira, agosto 27, 2008

A magia da pesca

Porque a pesca não se faz apenas de técnicas e materiais, de cores e tamanhos ou de pesqueiros e fases da lua, apeteceu-me escrever sobre a “magia da pesca”, aquilo que leva tantos milhares de pessoas a irem pescar. Com mais ou menos experiência, todos nós somos alimentados por uma vontade, muitas vezes quase irresistivel, de ir para junto do mar. È sobre essa vontade e aquilo que ela representa para mim que vou escrever neste post.


A nostalgia

É comum ouvir dizer-se a muitos pescadores que pescam desde pequenos e começaram a pescar com o pai ou o avô. Desde essa altura foram evoluindo nas diversas modalidades que escolheram mas nunca, pela experiência que tenho, abandonam os ensinamentos que receberam nessa altura. Esse elemento nostálgico que, em muitos de nós alimenta o gosto pelo mar, vai perdurar para sempre e acabará, em muitos casos, por ser transmitido aos nossos filhos. A pesca é um elo entre gerações, um elo que fortalece quem dele pode beneficiar e um momento de partilha tão importante. Os sítios onde pescamos na nossa infância e as pequenas imagens que ficamos dos nossos pais a partilhar os seus conhecimentos são, estou certo, para sempre recordados independentemente da nossa idade. Um filho não esquece as pescarias ou os passeios de barco com o pai que lhe deram o gosto pelo mar. Esta nostalgia com que recordamos estes momentos será então a base da magia da pesca, o primeiro elemento sobre o qual todos os outros se irão fundir.


A aprendizagem

Um segundo elemento que contribui para a magia da pesca é a constante aprendizagem que devemos ter ao longo da nossa vida de pescador. Mal daquele que pensa que já sabe tudo e não acha necessário mudar nada quando vai à pesca. O que aprendemos todos os dias com os mais experientes e mesmo com aqueles que ainda não o são serão fundamentais para conseguirmos dar a volta às situações de maior dificuldade na pesca. Todas as modalidades evoluiram para responder às maiores exigências dos praticantes e à cada vez maior escassez de peixe e pressão que o mesmo acaba por sofrer pelo maior número de praticantes. Ao aprender a utilizar novos materiais e novas técnicas o pescador vai crescendo de entusiasmo e aplicação. Acaba por ser viciante a procura pela melhor montagem ou pela melhor forma de trabalhar uma amostra de forma a atrair o peixe mais dificil ou contornar a dificuldade encontrada no pesqueiro em determinado dia. Na pesca não há verdades absolutas e devemos sempre aprender com os pormenores e situações que vamos encontrando. Pensar a pesca é fundamental nos dias que correm.


A fuga

Muitas vezes em que vou à pesca e não apanho nada costumo dizer que pelo menos valeu a pena pelo vento e os salpicos de mar na cara. Que vale a pena pelas paisagens e pela paz de espirito que encontro quando estou junto ao mar. Que vale a pena pela exaltação dos meus sentidos quando pesco de noite no meio do escuro e me guio pelas estrelas e pela luz da lua. Que vale a pena pela comunhão com uma natureza que nos permite disfrutar dela mas que também nos impõe respeito. Quando vou à pesca não procuro apenas apanhar peixe mas sim encontrar-me comigo próprio, aproveitando aqueles momentos para limpar a cabeça do stress do dia a dia. Todos nós que adoramos a pesca sabemos o bom que é chegar à praia e começar a pescar depois de um dia de trabalho mais intenso. Esta fuga que a pesca permite é, na minha opinião, outro dos elementos que contribuem para a magia da pesca.

O peixe

A função básica de ir à pesca é apanhar peixe. Todos nós gostamos de apanhar peixe pois isso será o sinal de que tivemos sucesso na aplicação de todos os conhecimentos que fomos adquirindo. Quem não gosta de trazer o peixe para casa e disfrutar dele em família ou entre amigos. Sabe mesmo bem. Mas ao termos por objectivo apanhar peixe também devemos aprender a respeita-lo e a respeitar o mar que nos permite pescar. O acto de libertar um peixe por não ter medida ou por estar ovado é algo que nos deve encher de orgulho e não ser visto de forma recriminatória. Saber que somos capazes de chegar junto da imensão que é o mar e apanhar um peixe é algo de mágico capaz de levar, desde o mais jovem ao mais velho, a pescar.


O sonho

Cada pescador tem sempre um sonho. Todos nós sonhamos com algo quando vamos à pesca. Seja por apanhar um grande exemplar ou seja por fazer uma grande pesca apostando na quantidade. O meu sonho é apanhar um grande exemplar. Um daqueles peixes que transforme uma jornada de pesca numa história para ser para sempre recordada. Um peixe que se transforme numa foto que ficará para sempre a marcar aquele momento. É este sonho que nos movimenta, que nos leva a ir pescar. E é um sonho que é possível de concretizar. Nada é impossível na vida e todos nós somos capazes de nos superar bastando ter para isso vontade de alcançar aquilo que queremos. Também na pesca acaba por ser assim... se é certo que por vezes existem verdadeiros momentos de sorte que se tornam mágicos para quem deles beneficiou também não é menos verdade que aqueles pescadores que geralmente consideramos bafejados pela sorte, aqueles que apanham sempre mais, são também aqueles que mais trabalham ou que mais procuram aprender.

Tudo isto é para mim a magia da pesca. O sonho de apanhar um peixe ou de ir pescar a determinado pesqueiro. A recordação de um peixe apanhado ou a partilha de um momento com alguem. Um crescimento constante como pescador e um maior respeito pela natureza. Apesar de ser importante apanhar peixe, a pesca não se resume a isso. Bem antes pelo contrário. E se conseguirmos pescar com coração e com feeling iremos sempre retirar prazer dessa magia que é ir à pesca.


Este post é uma pequena homenagem ao meu pai, um grande pescador que partiu para outros mares. Descansa em paz Pai...


8 comentários:

Rodrigo Zacarias disse...

Bonito relato e grandes fotos.

Parabens.

Anónimo disse...

Os meus sinceros sentimentos amigo Fernando!!!

Gostei bastante deste sentido post!

Um abraço
Sérgio

Anónimo disse...

"a pesca é isto mesmo"


boa tarde!!
sem duvida já venho a este blog ha alguns dias e tenho reparado que, vale a pena o tempo perdido aqui a ler todos os post continue assim estou a construir um e depois conviduo a ir ver o meu mas este tocou-me bastante a pesca é isto mesmo

parabens pelo blog

Toño disse...

Te acompaño no sentimento pela perda de seu pai.
Magnífico Post homenagem.

Atenciosamente

Fernando Corvelo disse...

Caros amigos,

Muito obrigado pelas vossas palavras.
Abraço sentido,

Fernando

Ricardo Leonardo disse...

Partilho contigo a forma como vês estes momentos da pesca.
Lamento a tua perda.
Abraço,

zmsantos disse...

Caro Fernando Corvelo.
Conheci este seu espaço atravez do PES, e estou aqui um pouco dividido quanto à oportunidade em que o fiz.
Dividido entre a excelente qualidade deste trabalho e o momento difícil que está a passar.

Perdoe-me a ousadia, porque não nos conhecemos, mas deixe-me desejar-lhe força para continuar a perpetuar o trabalho que o seu pai fêz, no seu gosto pela pesca, pela natureza e pelo respeito que mereçem todos os seres vivos deste planeta.

Voltarei, sem dúvida!

Um Abraço

José Santos

Gouveia disse...

Fernando,

os meus sinceros sentimentos. Onde que que esteja, ir se á tb ele sempre recordar das pescas que fez contigo.

Um grande Abraço,

Antonio Gouveia.

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