quarta-feira, outubro 28, 2009

A preservação do robalo (1)

É comum ouvirmos cada vez mais dizer entre os pescadores à linha que as capturas são cada vez mais escassas e que antigamente é que era bom. Se é verdade que em alguns momentos do ano parece quase existir uma “explosão” de peixe num determinado ponto da costa, também não deixa de ser uma constante cada vez mais presente o termo “grade” no relato das nossas pescarias. Assim, a questão da preservação das espécies que pescamos e mais concretamente do robalo, aquela que, sem dúvida, é mais procurada pelos pescadores de amostras, é um dos pontos centrais da pesca na actualidade e um dos que mais deveria captar as atenções de todos os pescadores lúdicos, e não só, em Portugal.
A lógica é muito simples: quanto mais preservarmos e defendermos no presente mais teremos para pescar no futuro!
E isto serve, na minha opinião, não apenas para os lúdicos, mas também para os profissionais, para os artesanais, para as lojas de artigos de pesca e até para os importadores. A minha ideia é simples se houver mais peixe para toda a gente, tudo funcionará pela simples lógica da procura, ou seja, se há mais peixe vamos mais à pesca, se vamos mais à pesca vamos comprar mais materiais, se compramos mais materiais as lojas vendem, se as lojas vendem os importadores também vendem. Ao mesmo tempo, se houver mais peixe também parece-me que haverá também mais possibilidades para a pesca profissional e artesanal, quer em termos de pesca directa quer mesmo em termos de outras actividades, nomeadamente, algumas relacionadas com a pesca desportiva.

À partida esta poderá parecer uma ideia meramente mercantilista da pesca do robalo, mas para mim faz cada vez mais sentido pescar hoje menos para poder continuar a pescar com sustentabilidade no futuro. Se todos nos preocuparmos um pouco mais hoje iremos certamente garantir o futuro de uma espécie.

As medidas legais do robalo
Actualmente a lei portuguesa impõe como medida mínima para a captura de robalos, os 36 cm e para as bailas, os 20 cm. Estas são medidas que, alegadamente poderão contribuir para que os robalos e as bailas tenham, pelo menos, a possibilidade de fazer uma postura antes de serem capturados e dessa forma se garantir a sua continuidade. Em França, por exemplo a medida mínima para o robalo são os 42 cm porque se chegou à conclusão que se estaria a defender melhor a espécie, nomeadamente, porque não existem verdadeiras certezas quanto à idade que um robalo deve ter para atingir a maturidade sexual, pois isso depende de factores muito variados relacionados com a zona onde esses robalos vão crescer. È comum os robalos mediterrânicos crescerem mais rápido que os robalos das águas mais frias do Atlântico.

Em Portugal não existem estudos científicos que nos permitam ter alguma certeza em termos das taxas de crescimento e reprodução dos robalos, nem da sua distribuição nem mesmo dos stocks que actualmente existem. Esses estudos seriam fundamentais para se poder estabelecer, com alguma certeza, se são ou não necessários os tão temidos, por uns, períodos de defeso ou as zonas de protecção dos juvenis e posturas. Era fundamental para todos, antes de sair qualquer tipo de legislação, meramente restritiva, existirem essas bases científicas que permitissem realmente defender o robalo em Portugal. Mais uma vez o interesse seria comum a todos aqueles que pescam esta magnífica espécie.

O exemplo da Irlanda é espectacular neste domínio. A pesca desportiva, tal como a profissional, é defendida, sendo a pesca do robalo considerada com uma pesca nobre e mais importante mais valia em termos turísticos para o país. Aqui, o robalo é protegido legalmente há mais de 10 anos sendo que actualmente apenas é permitido, a cada pescador levar para casa, o limite de dois robalos por um período de 24 h, existe um tamanho mínimo de 40 cm, um período de defeso entre 15 de Maio e 15 de Junho em que está interdita a pesca do robalo e a total proibição de venda ou oferta para venda dos robalos capturados. Mais importante do que todas estas regras existe uma verdadeira preocupação com a defesa do Robalo e das outras espécies que é partilhada por todos pois a pesca é considerada uma herança histórica e um bem comum. O Central Fisheries Board, organismo que coordena tudo isto, aposta na pedagogia e na formação, aquilo que me parece que falta mais em Portugal.

Esta é a primeira parte de um artigo publicado na edição de Novembro de 2009 do Mundo da Pesca

1 comentário:

Gouveia disse...

Ora bem,

ora aqui está um excelente artigo. Concordo plenamente com o que aqui está escrito. Acho que os 42 cm devia, pelo menos, ser a medida adoptada, a medida minima para alem dessa devia ser adoptada por cada um de nós, a chamada "medida da nossa consiencia" que no meu caso são 46cm.
Custa, no meu caso muito, ver pessoas que ja apanharam peixes de 2, 3, 4 e mais kilos levarem para casa peixes de 700gr pelo simples facto que de terem mais de 36cm.

Boa Fernando, muito boa iniciativa.

Antonio Gouveia.

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