sexta-feira, novembro 03, 2006

Segundo Poema do Pescador

Pescando robalos no meio do canal
a lua de quarto deslocando-se lentamente
as areias cintilantes e as estrelas
cadentes que brilham de seu próprio apagamento
respiro o iodo o sal o vento
o cheiro da salsugem e penso que tudo não é senão o que já não é
e que o momento em que isto digo
é já outro momento

Por isso quando vou à pesca eu não vou só à pesca
procuro o peixe e o sentido ou talvêz a ausência dele
toda a minha atenção se fixa e se concentra
há um robalo que não há e que só eu pressinto
não é ciência nem técnica é algo mais
de pé no meio do canal
lançando e recolhendo a linha
como quem escreve sobre as águas
a mesma pergunta interminavelmente
enquanto caem estrelas e as palavras
como elas fulguram em seu arder.

Manuel Alegre, Senhora das Tempestades

1 comentário:

Anónimo disse...

Confesso que a primeira vez que visitei o Blog de V. Exa., fiquei demoradamente(tipo 3 segundos)a pensar: o que leva um ser humano a ficar uma eternidade(tipo um dia inteiro) com uma "caninha" na mão à espera que o peixe (seja lá qual for) caia naquela esparrela que é o "anzol". Pensei...pensei...e como estava cheia de pressa fui-me embora sem ter chegado a conclusão alguma. Agora, chegada a tardinha,e menos apressada, mas igualmente pensativa, voltei cá e percebi tudo. Obrigada Manuel Alegre! :)

A signatária
Mané

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