quarta-feira, março 19, 2008

Robalos à superfície

A pesca à superfície leva por vezes os robalos a desencadear ataques espectaculares mas coloca também o pescador perante inúmeras situações de ferragens falhadas e peixes perdidos. Mais do que ter reflexos, ferrar um peixe à superfície exige uma boa capacidade de concentração, atenção e antecipação por parte do pescador no sentido de aumentar as suas possibilidades de sucesso perante um adversário tão astuto como é o rei da nossa costa.



Qual será a razão ou razões que levam os robalos a falhar os ataques às nossas amostras?

Uma das razões pode estar no facto de o robalo muitas vezes não pretender “comer” a amostra mas tão somente afugentar aquele intruso do seu território. Isso leva-o a atacar a amostra sem abrir a boca e poderá então ser isso que justifica alguns peixes virem picados pelo lombo, barriga e até, em alguns casos, pela cauda. À superfície o que acontece é que o robalo está no fundo e sobe e volta a descer tocando nesse momento na amostra ou com o lombo ou com a sua parte lateral. Como as fateixas estão debaixo da amostra é relativamente fácil o peixe não ficar picado. A sucessão deste tipo de ataques acaba por ser bastante frequente e coloca-nos então perante a questão ou se preferirem problema da ferragem, que se torna ainda mais premente perante a possibilidade de alguma inexperiência ou excitação natural de ver o ataque à superfície. O que geralmente acontece nestes casos é uma dificuldade de controlar o nosso movimento e uma tendência para uma ferragem demasiado enérgica e exagerada, que acaba por tirar a amostra da boca do peixe, afugentando-o para águas mais profundas.

Pode acontecer também que esse “ataque” à amostra seja apenas uma tentativa do robalo para desorientar ou ferir aquela eventual presa ali à sua mercê. Por isso ele vai lá dar um toque na amostra. Assim não é má ideia nessas ocasiões, ou quando pensamos que isso aconteceu, dar um trabalhar mais errático à amostra, dando a entender ao robalo que teve sucesso e que a sua presa estará ferida e muito fácil de capturar. Dessa forma, ele irá atacar mais decidido e teremos então aí a nossa melhor oportunidade.

Uma terceira razão para os ataques falhados tem a ver com a reacção do peixe perante a textura do artificial que estamos a utilizar. Isto acontece geralmente quando temos aqueles ataques tão súbitos e repentinos que nem temos tempo para reagir e ferrar. Nestes casos, os peixes abocanharam realmente a nossa amostra mas mal sentem a sua textura rapidamente a cospem percebendo que não é alimento. E convenhamos que uma amostra dura dá muito facilmente essa percepção ao peixe. Assim naquela fracção de segundo em que se joga o sucesso da nossa ferragem joga-se também a possibilidade do robalo rejeitar a amostra e afastar-se.



Antecipação

Perante tudo isto que disse atrás, o que podemos então fazer para conseguir maior sucesso? Na minha opinião e tendo por base algumas ideias de especialistas franceses de pesca ao robalo, devemos apostar na antecipação. Antecipar significa, neste caso, conseguir prever o ataque do robalo, o que se consegue com a experiência e rotinas adquiridas com muitas idas à pesca, que depois se traduzirão na nossa habituação a um conjunto de procedimentos que podem aumentar as nossas possibilidades de apanhar peixe. A nossa memória e a capacidade de guardar nela todos os pormenores e informações relacionados com anteriores capturas e experiencias vividas é uma das nossas mais valias e aquele factor que nos irá permitir então antecipar os ataques. O treino do trabalhar da amostra é, como já referi em várias ocasiões, fundamental nesta modalidade, para nos dar o conforto e a confiança sempre necessários para tirar proveito da ida à pesca.




Concentração e atenção

O mais importante é manter sempre uma concentração durante a recuperação e o trabalhar do nosso artificial, permitindo com isso manter uma permanente observação sobre os factores que acontecimentos que interagem com a amostra durante esse trajecto. Assim, acho que devemos sempre:

Manter os olhos na evolução do artificial dentro de água, pois é isso que nos permite recolher as informações, mesmo as mais discretas. Aqui aproveito para dizer que para a pesca à superfície é altamente recomendável a utilização de uns óculos polarizados que dão uma grande ajuda pois permitem ver os ataques, os pesqueiros, os obstáculos e protegem os olhos dos raios solares;


Ao mesmo tempo devemos conseguir relacionar os nossos movimentos de punho e os comportamentos que eles provocam na amostra à superfície. Sabendo quais os seus comportamentos padrão conseguiremos com alguma facilidade identificar algo de estranho ou peculiar na sua acção que possa então ser um indicio ou a eminência de um ataque;


Finalmente, podemos também observar a periferia ou perímetro em torno da amostra enquanto esta vai evoluindo à superfície, pois será nesse espaço de menos de um metro que poderemos descortinar qualquer movimento que indique a presença de peixe e a possibilidade de um ataque. Muitas vezes conseguimos visualizar até o traço deixado atrás da amostra por um peixe que a vem a perseguir, mesmo que seja só por curiosidade e não para a atacar realmente. Quando nos apercebemos disso podemos sempre parar ou diminuir a cadência de recuperação tentando despertar a agressividade do peixe.



Podemos então afirmar que existem vários indícios genéricos que ocorrem com alguma regularidade que nos permitem estar preparados para a investida do robalo. A concentração e atenção na evolução da amostra e de tudo o que a rodeia, como atrás referi, dão-nos o treino e a capacidade de identificar esses sinais e preparar a ferragem. E aqui o que considero mais importante é evitar afugentar o peixe com gestos muito instintivos que acabarão por se transmitir ao artificial dando-lhe um comportamento ainda mais estranho aos olhos do peixe. Só devemos ferrar quando sentimos um peso significativo na linha e não ao mais pequeno toque na amostra. Se o fizermos muitas vezes falhando a ferragem iremos apenas afastar o peixe. Devemos também ter o fio sempre esticado e a cana numa posição que facilite o movimento de ferragem.

3 comentários:

Paulo Machado disse...

Olá Fernando,
Não estou nada admirado contigo.
Excelente.
Grande abraço
Parabéns pelo teu blog.

luisvic disse...

Excelente artigo Fernando. Bons conselhos, mas bem difíceis de seguir para quem começa nestas lides, eheheh. Manter a calma e a concentração quando se vê um torpedo com o lombo fora de água leva o seu tempo a conseguir.
O teu blog continua um "must".

Grande abraço

luisvic disse...

Excelente artigo Fernando. Bons conselhos, mas bem difíceis de seguir para quem começa nestas lides, eheheh. Manter a calma e a concentração quando se vê um torpedo com o lombo fora de água leva o seu tempo a conseguir.
O teu blog continua um "must".

Grande abraço

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