domingo, dezembro 04, 2011

Bicuda sem ondas...


Seria politicamente incorrecto começar pela ficha técnica ?
Captura: Bicuda com 4,5 Kg
Local: Baia Norte da Fábrica de Peixe da Madalena, Pico, Açores.
Carreto: Shimano Stella FD 4000
Cana: Shimano Exage BX STC, 3,00m, H, acção 20-50 gr. com 5 elementos.
Amostra: Duo Tideminnow SLD 175 , cor "peixe piça"
Clip: Spinlink clips da Breakaway SL2 35lb
Linha: Power Pro 0,19, vermelho
Baixada: 1,20 m, Atko Fluorocarbon da Yuki 0,45 / 15.24 kg









Um post atrasado com sabor a Verão.

Umas férias grandes que não foram programadas como férias dedicadas à pesca, mas atendendo ao local escolhido, na véspera da partida fiz um esforço :-) e preparei um saco com o meu carreto, uma caixa de amostras, o grip e umas luvas.

A cana que levei foi a Exage STC ( Shimano Travel Concept), de 3,00 m. Heavy. Uma cana de viagem, facilmente transportável, de 5 elementos, que colocada dentro do seu estojo mede desmontada apenas 58 cm.

Mesmo com tantos elementos separados a cana pesa apenas 268 gr. Uma cana com uma excelente ergonomia e com muita sensibilidade ao trabalhar das amostras. Sendo uma STC ( Shimano Travel Concept), está também isenta do pagamento de taxas adicional aeroportuária como bagagem fora de formato.

Montar esta cana em carbono XT60, porta carretos e passadores Shimano Hardlite é extremamente fácil e durante toda a pesca que fiz, desde as 6:30 até às 9:00 da manhã só ajustei uma vez os vários elementos.

Nesta jornada sai de casa, em S. Roque do Pico, ainda de noite. Eram 6:00 horas, mas já raiavam a nascente alguns tons laranja. De casa até ao meu spot habitual, a Sul da Madalena são aproximadamente 22 km, 15 minutos de viagem. A missão era apanhar uma anxova, o jantar estava combinado e o peixe deveria estar na mesa umas horas mais tarde.


Chegado ao pesqueiro, sem vento e ondas, com uma caixa sortida de amostras comecei por pescar com a Lucky Craft SW Flashminnow 130MR - Zebra MS Chartereuse e depois com a Rough Trail 130 S, na cor N 148, mas não senti nem um toque.

O dia raiava e os tons de laranja eram cada vez mais intensos. A maré começou a descer e a água engodada começou a correr para Sul, tornando-se cada vez mais difícil pescar aquela anchova. Mudei de amostra e coloquei a Duo Tideminnow SLD 175 na cor europeia "peixe piça".

Senti no primeiro lançamento um toque e depois mais nada. Quase a desistir do pesqueiro lanço, não para a baía mas sim em direcção ao ilhéu da Madalena e na recolha uma cabeçada.


Ferrei e o peixe começou a levar linha e o Stella cantava. Senti que o peixe era grande. Cana ao alto, estava confiante, era uma H (Heavy), o arco que fazia era perfeito e senti a sua eficácia. O carreto ajudou muito mas tive o prazer de poder testar pela primeira vez esta cana. Senti passado pouco tempo que não era a anchova que por tanto ansiava, a luta não foi muito longa e percebi logo depois que era uma bicuda.

É por estes momentos que sou de algum modo adicto à pesca. Eu, enquanto pesco imagino cenários e acções da amostra dentro de água. Imagino como é que a amostra vai a trabalhar, ponho-me até no papel do peixe ao vê-la passar. Imagino como é que o peixe a observa, se encanta e ataca.  
Trata-se de um momento de concentração, de fé e de abstracção total. Eu desligo da realidade. Canalizo através das maniveladas e dos toques de ponteira da cana as mensagens de comando às peripécias e acções que a amostra fará aos olhos do peixe ou da sua linha lateral.

De cana vergada e naqueles propósitos, apareceu o Sr. Luis que veio juntar-se a mim para ver a cena. A cana vergava e o carreto cantava… ele dava-me ordens… um espectáculo! " - Baixe a cana, enrole, o peixe leva-lhe a linha toda, ainda foge… ", e eu a fazer tudo ao contrário… Um stress… e quando o peixe abeirou exausto… dizia-me - Vá puxe isso! E eu já me ria… fui junto à água e com o grip tirei o peixe para a rocha. Grande sorriso fazia o Sr. Luis que se colou a mim na sua pesca às Vejas.

Com o peixe na rocha tirei umas fotos e foi ai que vi que a amostra estava gravemente ferida, tinha sido trespassada por um dente de bicuda.

Fiz mais uns lançamentos e acabei por desistir. Estive a observar o Sr. Luis na sua arte de pescar Vejas com o seu caniço de pau e com caramujo (caranguejo da rocha). A Veja andava por ali junto às pedras mesmo sobre os nossos pés. Era uma fêmea vermelha grande e gorda.

Agora era a vez do Sr. Luis mostrar a sua arte. Caniço de madeira, linha grossa, sem carreto, anzol gasto e metade de um caramujo. O peixe sentiu o cheiro e veio comer. Caniço ao alto e peixe cá para fora. Tanta foi a força que ao pôr o peixe em cima da Rocha desferrou-se e foi cair numa frincha entre duas rochas, que ninguém o tirava. O peixe estava entalado e não se chegava lá com a mão. Fui buscar uma zagaia da minha caixa e ferrei pela primeira vez um peixe fora de água. Grande sorriso fez aquele Homem. Fica as fotos para se recordar.



Já tinha o peixe para o nosso jantar, já tinha aprendido mais umas coisas com o Sr. Luis e resolvi ir embora.
A pesca para mim não é só o peixe muito menos o troféu é sobretudo o desejo da partilha. Partilhar as experiências, as histórias e o jantar com os amigos...

O peixe, como sempre, foi arranjado por mim e foi com alguma curiosidade anatómica que o fiz.


Mais tarde, grelhadas as postas, batatas assadas com manteiga e coentros. Vinho de lava e uma noite estrelada... O resto imaginem vocês…











2 comentários:

Miguel disse...

Ehhh Carlos... Já tinha saudades de um texto destes!!! Parabens pelo peixe e tudo resto.

Abr,
Miguel

Luís disse...

Que grande aventura Carlos...esses peixes devem dar uma luta fantástica!!! Parabens pelo relato, e por portilhares com todos esse momento.

Abraço

Luís

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